segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Brasil quilombola

Por Radígia de Oliveira

A história dos negros escravizados que fugiram e conseguiram sobreviver por séculos sem serem descobertos impressiona quem visita o local em que viveram e hoje estão seus descendentes, os remanescentes de quilombos. Somente na comunidade quilombola de Kalunga, situada na região da Chapada dos Veadeiros, em Goiás, há quatro mil pessoas. A área, considerada a maior de remanescentes de quilombos do país, abrange as cidades de Cavalcante, Monte Alegre de Goiás e Teresina de Goiás.

O povo Kalunga é descendente de escravos fugitivos das minas de ouro da região central do Brasil. Eles chegaram ao local no século 18 e atualmente ocupam área de 253,2 mil hectares. Até a década de 80 do século passado viviam totalmente isolados. Em Engenho II, povoado de Cavalcante, há escolas, casas construídas por programas do governo e energia elétrica, mas a luz é “fraca”, afirma o simpático Sirilo dos Santos Rosa, presidente da Associação Mãe, que abrange as comunidades de quilombos dos municípios de Cavalcante, Monte Alegre e Teresina de Goiás. “Se ligar o chuveiro e a televisão juntos, a TV sai do ar”, explica.

Na casa de Sirilo, o visitante encontra almoço “100% orgânico”, como ele faz questão de ressaltar. A refeição, preparada pela mulher dele, Getúlia, custa R$ 15,00. O cardápio inclui banana da terra, suco de abacaxi, arroz, frango caipira, tudo diretamente da roça da família e preparado em fogão a lenha.
Sirilo lembra que no local há também uma roça coletiva com plantações de arroz, feijão, trigo, mandioca, banana, cana, abóbora. Os produtos cultivados para a sobrevivência, a dificuldade de acesso e os rios da região provavelmente vêm garantindo a vida dos quilombolas desde a época da fuga.
Monte Alegre – O agente de saúde quilombola Olegário Antônio de Aquino (foto ao lado) acredita que a vida melhorou nos últimos anos. Seu trabalho é visitar famílias quilombolas de Monte Alegre de Goiás, onde mora, para dar orientações sobre prevenção, recuperação e manutenção da saúde. O meio de transporte utilizado pelo agente é a moto que, orgulha-se, comprou com o próprio salário. “Melhorou muito, principalmente com o transporte”, enfatiza. Antes, ele andava a pé ou de burro, como muitos ainda fazem para chegar até a cidade.

Segundo vereador quilombola Manoel Edeltrudes Moreira, entre 25% e 30% das moradias de remanescentes de quilombos de Monte Alegre contam energia elétrica, o que não é o caso do povoado de São Pedro, que fica mais de 100 quilômetros de distância do centro da cidade. Iluminação, só se for com lamparinas.

Como chegar – Partindo de Brasília, são 330 quilômetros até Cavalcante e mais cerca de 25 quilômetros de estrada de chão até Engenho II, o mais próximo da cidade. É possível chegar ao local com veículo pequeno, mas é melhor não arriscar em dias de chuva.

Sirilo explica que são cobrados R$ 20,00 por barraca dos interessados em acampar na área e que um passeio para as cachoeiras, com guia, custa R$ 50,00 para grupos de até oito pessoas.

No caso de Monte Alegre de Goiás, o ideal é usar um carro com tração 4x4 para não correr o risco de ficar no meio do caminho por causa de obstáculos, como pedras e riachos.

4 comentários:

  1. Que interessante, Radi. Adoraria visitar um lugar assim.

    Fernando

    ResponderExcluir
  2. Fernando, a gente pode juntar o povo e combinar de visitar. Fica perto de Brasíla e vale mesmo muito a pena conhecer. Bjs!

    ResponderExcluir
  3. Oi, Radi!
    Mto bacana seu post. Não conheço o Kalunga, mas tenho muita vontade. Trabalho com uma comunidade quilombola no Maranhão e tive oportunidade de conhecer outras tantas do Estado e assim como as do post, possuem similaridades quanto a moradias, necessidades básicas faltosas e etc Para além disso,uma riqueza cultural, saberes e fazeres passados através de gerações...
    O contato com esses sítios tradicionais e todo o conhecimento e momentos presenciados me fazem cada vez mais acreditar que meu trabalho valerá a pena. Quando puder, conheça nossas comunidades!
    Parabéns pelo blog!
    Abs

    ResponderExcluir
  4. Obrigada, Dona Reis!
    Kalunga é a única comunidade quilombola que conheço, mas quem sabe um dia eu visite as do Maranhão...
    Parabéns pelo seu trabalho que, com certeza, valerá a pena sim!
    Abraços!

    ResponderExcluir