terça-feira, 14 de abril de 2009

LÍNGUA PORTUGUESA-Eu te amo, eu amo você, eu o amo, eu lhe amo

Por Radígia de Oliveira

"Eu te amo, te amo, te amo”, repete o cantor Roberto Carlos desde o fim dos anos 60. A canção, composta em parceria com Erasmo Carlos, ajudou muitos apaixonados sem coragem de declarar amor com as próprias palavras. Bastava colocar o “bolachão” do Rei e o cenário estava pronto.

Há quase dez anos, Marisa Monte também embalou o romance de muitos casais ao cantar “deixa eu dizer que te amo", trecho de música feita em parceria com Carlinhos Brown. E então, Roberto Carlos e Marisa Monte estão em sintonia com a norma culta da língua portuguesa?

“Não”, responde a professora de português Ladanir Millack. Antes da declaração de amor propriamente dita, Roberto Carlos canta, por exemplo, que está "quase morrendo de saudades de você". E à frase "deixa eu dizer que te amo", Marisa Monte acrescenta "deixa eu gostar de você". Tanto ele quanto ela misturam segunda e terceira pessoa. Ambos trocam "tu" por "você", e vice-versa. Ao dizer “eu te amo”, eles usam o pronome de tratamento “tu”. Assim, não devem declarar, por exemplo, “eu te amo, você é tudo pra mim” e, sim, “eu te amo, tu és tudo pra mim”. Argh!

Quem quase não misturou nada foi Raul Seixas ao repetir várias vezes “se eu te amo e tu me amas...”, trecho da belíssima música A Maçã, composição dele e do escritor hoje lido mundialmente Paulo Coelho, mas a tal licença poética pode justificar o uso de "sua" em vez de "tua" em determinados momentos.

Eu lhe amo - Há quem acredite que a demonstração de amor pode até ser maior se disser, por exemplo, “eu lhe amo”. Será? Nada. O verbo amar é transitivo direto, não pede preposição. Eca! A professora Ladanir esclarece melhor: “A gente diz 'eu amo você', 'eu amo José'". A norma culta não aceita "eu amo a você" ou "eu lhe amo".

Além do tradicional “eu amo você”, há outra forma de usar a terceira pessoa para declarar amor sem –digamos– atropelar a norma culta. Basta dizer “eu o amo” ou “eu a amo”. Basta? O problema aqui é o excesso de formalidade...

Então, é o seguinte: se a declaração é realmente de amor, nada demais misturar pessoas, atropelar línguas, distorcer palavras... No amor e na linguagem coloquial, quase tudo é permitido. E mais: ninguém pode ter mais direito a licenças poéticas que os apaixonados.

A imagem deste texto: by eos53, disponível em http://www.morguefile.com/archive/display/230843

Músicas deste texto

Eu te amo, te amo, te amo, com Marisa Monte e Roberto Carlos. Composição de Roberto e Erasmo Carlos. Ouça aqui.
Amor I love you, de Marisa Monte e Carlinhos Brown, com Marisa Monte e Roberto Carlos. Para ouvir, clique aqui.
A Maçã,com Raul Seixas,composta por ele e Paulo Coelho.


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