terça-feira, 31 de março de 2009

LÍNGUA PORTUGUESA - Preconceito “gerúndico”

Por Radígia de Oliveira

Pobre gerúndio. Nasceu para indicar uma ação em andamento, mas parece que, para muitos, não indica mais nada. Tudo por causa do aparecimento de um parente seu, o gerundismo. Como muita gente não distingue um do outro, sofre preconceito quem se atreve a falar qualquer palavra que termine em ando, endo ou indo, mesmo que a pessoa esteja naquele momento realmente amando, vivendo ou saindo...

“Agora tudo virou gerundismo, mas não é bem assim”, protesta a professora de português Ladanir Millack. Desde 2007, por exemplo, o gerúndio está "demitido" dos órgãos públicos da capital federal. A "demissão" foi realizada por meio de decreto. Como assim? Ninguém acaba com um tempo verbal, muito menos por decreto. A língua é viva e cabe ao usuário falar como quiser.

Diferentemente do trema, o gerúndio não está à beira da morte. Ele pode e deve ser usado sim, só depende da situação. É o caso da frase quando você chegar amanhã, eu vou estar dormindo. "Não é um vício de linguagem, não é gerundismo. É o uso normal do gerúndio”, explica a professora que atende pelo Telegramática, serviço que tira as dúvidas de português e é mantido pela prefeitura de Curitiba há mais de 20 anos.

Origem – Alguns estudiosos dizem que o gerundismo surgiu de traduções ao pé da letra para o português do tempo futuro na língua inglesa, seja com o uso do “going to” ou “will”. A professora Ladanir Millack discorda. Para ela, o uso exagerado de verbos no gerúndio surgiu intencionalmente com o telemarketing. Ao usar a frase vou estar transferindo em vez de vou transferir, a professora acredita que o objetivo é segurar a pessoa mais tempo ao telefone. Também implica em falta de compromisso: "Se a pessoa diz vou estar transferindo, ela não é taxativa. Dá a impressão de coisa demorada...”

Feio para uns, exagerado para outros, não importa. Na opinião da professora, o gerundismo é “simplesmente desnecessário”, diferente do gerúndio, um tempo verbal que todos precisam usar de vez em quando.
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A música deste texto é Pra não dizer que não falei das flores, com Geraldo Vandré. É recheada de gerúndios. Seria gerundismo? Ouça!

Para conhecer o decreto de "demissão" do gerúndio, clique aqui

Os professores do Telegramática atendem pelo telefone (41)3218-2425. Também respondem dúvidas por e-mail. Basta um cadastro pelo endereço www.cidadedoconhecimento.org.br

Leia também Português difícil é mito e Últimos suspiros do trema

3 comentários:

  1. Está ótimo o texto. Vou estar divulgando ;-0

    Fernando

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  2. Estou divulgando.Aliás ,CONTINUAREI "DIVULGANDO" ATÉ ACABAR COM OS BOSSAIS preconceituosos.
    Gerundio pode ser usado da forma polida dos atendentes de "TELEMERCADANDOS"

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