terça-feira, 13 de janeiro de 2009

CRÔNICA - Bala perdida

Por Radígia de Oliveira

Ela sabia que sair para se divertir naquele local poderia ser perigoso. Para os outros, afinal, era adolescente, e a idade permitia a Ela não ter medo de nada. Pegou calça, blusa e cinto da irmã mais velha. Vestiu as roupas escondida e saiu com o namorado para a festa. O ônibus demorou, mas Ela nem... Estava mesmo era se sentindo com as roupas da irmã. Na festa, Ela não bebeu nem água, mas dançou como ninguém. Os dois saíram antes para não perderem o último transporte de volta pra casa.

Caminhavam de mãos dadas em direção ao ponto de ônibus quando, de repente, um grupo passou correndo, desesperado. O casal de namorados não perdeu tempo. Na dúvida, correu também. Dois minutos depois, tiros! Ela caiu de bruços na rua sem asfalto. Não sentiu dor, o sangue não escorreu, mas uma bala havia acertado a sua cintura, do lado direito... Pânico. Ele saiu como um louco atrás de socorro. Os tiros ainda eram ouvidos, mas um taxista tão louco quanto ele parou e, comovido, levou a namorada ao hospital sem cobrar nada. Se cobrasse não iria receber mesmo...

Às 10h da manhã do mesmo dia Ela já estava em casa, com dois esparadrapos na cintura. Eles cobriam o local onde a bala havia entrado e saído. Nem um órgão vital havia sido atingido, salvo a calça, a blusa e o cinto da irmã. Ela não sobreviveu.


Imagem desta crônica: foto de Xenia, disponível no site http://www.morguefile.com/archive/?display=119982&.

Música desta crônica:
No caminho do bem, de Tim Maia, com Funk como Le Gusta. A música fez parte da trilha sonora do filme Cidade de Deus.

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