quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

CRÔNICA - Feira das Nações

Por Radígia de Oliveira

Ela cruzou com Ele entre a Argentina e a Inglaterra, no único lugar do mundo em que os dois países não são separados por um oceano. Ele estava de bermuda, com cabelos meio desalinhados. Era alto, estiloso mas, de longe, não chamava a atenção, mas Ela enxergou o rosto de estátua grega e os olhos verdes quando eles ficaram bem pertinho um do outro, em frente à França. De repente, o corredor se transformou no Rio Sena e Ela sorriu com um sorriso do tamanho do Louvre.

Ela continuou a caminhar, mas não resistiu e, como Sara, olhou para trás. Em vez do castigo de virar estátua de sal, recebeu a dádiva de perceber que Ele ficou parado, também de olho nela. Ela sorriu, agora imitando a Monalisa, e, de novo, seguiu “viagem”. Da França, passou rapidamente pela Índia, Turquia, Grécia, Itália... Na Terra do Papa, mais um encontro “casual”, mas aí Ela constatou o que já desconfiava: estava sendo seguida... Não se importou, até gostou. O corredor virou gôndola, e Ela sorriu novamente com um sorriso do tamanho dos afrecos de Michelangelo...

Na terceira vez, surpresa: Ele enfim se aproximou. Já estavam no Brasil e, primeiro, Ele ofereceu a Ela bombons argentinos. Arriba! Ela sorriu um sorriso do tamanho da Patagônia. Percorreram ainda alguns países... falaram mais línguas e, na despedida, Ele cochichou algo que Ela não entendeu, mas fingiu. Só depois de encontros e muitos meses Ela, enfim, compreendeu sem querer a mensagem ao pé do ouvido. Efeito retardatário: passou um mês de cama. No fim, em vez de sorrir, chorou lágrimas para encher três vezes a bacia amazônica. E só. A história virou apenas um tango de Carlos Gardel.


A música deste texto: “Por una cabeza”, de Carlos Gardel, dançada em cena do filme Perfume de Mulher.

A imagem deste texto: by chelle, disponível em http://www.morguefile.com/archive/display/134301

2 comentários:

  1. Nessa viagem pelo mundo até o fim do mundo, fui coadjuvante quase principal, e merecia, inclusive um Oscar, pela ajuda nos "roteiros".
    Ainda bem que o itinerário cinematográfico não terminou na Itália, onde poderia acabar em pizza, mas na Argentina, com um lindo tango de Gardel!

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  2. Josy, concordo que vc mereceria um prêmio pela ajuda nos "roteiros", tanto físicos quanto literários. Obrigada!

    Wagner, eu havia revisto a cena do filme no seu perfil sim, por isso tive a ideia de tb publicar aqui. Tb acho a cena lindíssima. Abs!

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