sexta-feira, 19 de junho de 2009

CRÔNICA Entre homens e livros

Por Radígia de Oliveira

Os livros mais importantes da vida dela estão relacionados com homens. Era assim: a cada tentativa de encontrar o par (im)perfeito, ela lia, pelo menos, uma obra considerada importante. Para ele, é claro! Assim, foi apresentada a Dostoiévski, Ernesto Sábato, Clarice Lispetor e José Saramago, só para citar alguns...

Tudo começou com O Idiota. “Eu comprei O Idiota hoje”, disse o homem em quem ela estava de olho. Ela entendeu que ele havia comprado um livro idiota, então perguntou, na maior ingenuidade: “Se é idiota, por que comprou?” Ele começou a rir e depois de looongos minutos de gargalhada, explicou a ela que O Idiota era um dos livros do escritor russo Dostoiévski. Ela se sentiu a própria idiota. Para compensar, começou a ler todas as obras do escritor. Começou por O Idiota mesmo, depois passou para Crime e Castigo, O Jogador, Noites Brancas, Os Irmãos Karamazóvi... mas o romance não engatou.

De Dostoiévski para José Saramago. No início, a atração pelo escritor português nada tinha a ver com homens. Anos atrás ela esteve em uma livraria e resolveu abrir uma das publicações em destaque na vitrine. Leu a primeira página de Ensaio sobre a Cegueira e não conseguiu largar mais. Precisou comprar o livro, mas o Ensaio não foi suficiente para que ela se transformasse em uma fervorosa leitora de Saramago. A paixão pelo Nobel da Literatura cresceu quando ela descobriu que o então homem da vida dela a-ma-va O Evangelho Segundo Jesus Cristo e demais obras de Saramago. Assim, de Ensaio sobre a Cegueira, ela passou a ler o Evangelho, Ensaio sobre a Lucidez, As Intermitências da Morte, O Conto da Ilha Desconhecida... mas, de novo, o romance também não deu certo.

Depois de Saramago, hora da Clarice Lispector. Foi um caso diferente porque ela não chegou a ler vários livros da escritora, mas apenas uma obra: A Hora da Estrela. Ela e o homem que qualquer mulher gostaria de ter estavam no maior affair. Aí, o ser comentou que A Hora da Estrela havia sido marcante na vida dele. Foi a senha. Ela pegou aquele livro e devorou como se fosse um código secreto para se tornar a estrela dele. Nunca chegou perto. O romance terminou sem hora e sem estrela.

A última vez que misturou homens e livros foi quando se apaixonou por um apaixonado pelo escritor argentino Ernesto Sábato. Foi desolador. Começou de mansinho, com a leitura de El Túnel, que é fininho... Fez questão de ler em espanhol mesmo para o romance, ops, a leitura ser mais autêntica. Depois fez rodízio entre uma obra em espanhol e outra em português, como Entre Heróis e Tumbas e Antel del fin... Em viagem, comprou até livro de coleção única de capa dura para dar de presente para ele. Nunca entregou o “regalo” porque o romance nunca passou de um dramático tango argentino.

Assim, entre homens e livros, ela não encontrou o que procurava, mas se as tentativas de encontrar o par (im)perfeito não vingaram pelo caminho das letras, pelo menos ela se tornou uma pessoa mais culta. E continua de olho no gosto literário do próximo pretendente. Será?

A música deste texto: Livros, com Caetano Veloso

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